3.02.2009

Perguntei ao tempo quanto tempo o tempo tem.
O tempo respondeu que não sabia, pois, também eu não o sei.


Perco-me por aqueles tempos de criança, em que o nada sabia a pouco, e o muito sabia a nada
Em pirralho aprende-se a caminhar pelos próprios pés, a dar os primeiros passos em direcção ao mundo, a aprender a sonhar e a querer mais e melhor.
As mães obrigam-nos a vestir aquelas fatiotas horrendas, que elas consideram lindas e singelas: as camisolas de pêlo que picam, as camisas de interior estupidamente desnecessárias e incómodas, os vestidos repletos de folhos e padrões asquerosos e as belas das meias com rendas. Na escola obrigam-nos a beber leite de chocolate, em pacotes super coloridos mas que nem por isso tornam o leite enjoativo mais apetecível.
Nesta idade coleccionamos paixões, é o João, o Manuel, o Francisco, o António (Hoje em dia nem dirigimos palavra a nenhum deles).
Tempos ingénuos em que acreditamos no pai Natal, no coelhinho da Páscoa, na fada dos dentes (o que torna o facto de estarmos constantemente desdentados uma realidade magnífica). Sonhamos com príncipes encantados (que nunca vão aparecer, acreditem) e que somos umas verdadeiras princesas, e, como tal, podemos vestir cor-de-rosa em exagero e manchar a cara toda com aqueles artefactos giros que achamos no quarto da mãe mas que nem sabemos bem para que serve e onde se deve usar.
Com isto tudo vêm ainda os amigos dos pais que nos apertam as bochechas e dizem: “estás tão linda e crescida”, quando tu nem um metro sequer tens e tens a perfeita noção de quão horrível estás com aquele cabelo à Beatriz Costa que os teus pais acharam por bem te impor uma vez que, na irracional opinião deles, te assentava às mil maravilhas.

Tic tac! Tic tac!


Posso brincar mais uma vez às barbies? Acreditar no pai Natal? Arrancar um dente só para que a fada dos dentinhos venha? Esperar montada numa caixa de electricidade (o meu cavalo imaginário) que o meu príncipe venha resgatar-me, a mim, princesa vestida de cor de rosa e cheia de blush nas maçãs deste rosto que já não é de menina?



Ó tempo, volta para trás.

Agora estudas porque é essa a tua obrigação.
Os namorados passaram de muitos, nos tempos findos da infância, para um (se tiveres paciência) ou nenhum.
Começam a nascer as borbulhas, a barriga, o peito (no caso das sortudas) e os príncipes desaparecem e só conseguimos ver é sapos.
Mas agora sim, escolhemos com grande afinco a roupa que queremos vestir e os penteados que queremos usar, no entanto por vezes mais valia serem os pais a escolherem para não fazermos tantas figurinhas tristes; já sabemos para que serve a maquilhagem e a sua utilidade e ninguém nos obriga a beber leite com chocolate.

Deparamo-nos com outro elixir da juventude, aquilo que nos deixa tontas, burras, a dizer barbaridades, a rirmo-nos de tudo que não tenha piada e através do qual conseguimos por momentos voltar aos tempos áureos da criancice (quando o juízo era pouco e os sorrisos eram muito): o álcool.
Tornamo-nos coisas em esquisitas, com marés, com fases que dão para o melhor como para o pior. Vitimas da hormonas, da responsabilidade e da falta dela, das vivências, dos desgostos, da coragem, da mania e de muitas outras coisas, abrimos asas e saltamos finalmente do ninho. Por vezes há quem se estatele no chão mais próximo mas normalmente as asas não revelam problemas de maior importância e o voo mantém-se mesmo que atribulado.

Os sonhos tornam-se mais concretizáveis, mas nunca alcançáveis, se não deixariam de ser sonhos e perderiam a piada toda.
Olhamos em volta e vemos um turbilhão de sentimentos a substituir a felicidade que nos definia quando apenas queríamos a barbie para estarmos satisfeitas.
Hoje queremos mais, imploramos, reclamamos, berramos e bradamos por liberdade, dinheiro, saúde, amigos, amor, sexo, álcool, noite, dança e sucesso.
Ninguém nos aperta as bochechas, ou nos diz que “estamos lindas e crescidas” , a menos que seja um dos ditos sapos a praticarem o seu ridículo plano de sedução.

Always all ways.

Perdem-se segredos, sonhos, valores, amores, suores, terrores, …
Para sempre de todas as maneiras continuaremos a sorrir, os momentos serão um acrescento, as mudanças um crescimento.
Sabe bem pensar que fomos assim e mudamos, sabe bem desejar voltar a mudar, sabe bem relembrar o que fomos, imaginar o que seremos e, acima de tudo, sabe bem viver o que somos.

4 comentários:

Anónimo disse...

O tempo não para e eu não esqueço...tenho saudades....

Luís Miroto Simões disse...

Texto tão fantástico como verdadeiro...

Beijo

Unknown disse...

"os príncipes desaparecem e só conseguimos ver é sapos."
De certeza que os príncipes andam aí e tu queres fazer deles sapos.

Unknown disse...

Mas o texto está altamente.. Embora não ache que um sapo aperte as bochechas e te diga que estás crescida. LOL! xD